- Ed... - Pronunciou a jovem garota que usava um leve vestido branco que balançava para onde o vento mandasse.
- Como sabia onde me achar? O Al falou pra você por acaso?
- Não, ele não me disse nada. Virou rotina você estar aqui... sempre na mesma data.
- Eu disse pra ele que queria ficar sozinho. Não queria que lembrasse essas coisas.
- E por que não? - questiona fazendo uma pausa para sentar-se ao seu lado - Também passei por isso um dia.
- Mas é por isso, Winry. Sua dor é tão grande quanto a nossa, não precisa de mais um fardo para carregar.
- Quero dividi-lo com você. Se fizer o mesmo quem sabe... fica mais fácil aceitar.
- Eu nunca vou aceitar! - disse elevando um pouco o tom de voz, deixando a garota ao seu lado apreensiva - Não lembra pelo que fiz o Al passar? Nós quase morremos e foi tudo culpa minha. Não deveria ter colocado aquele
tabu de Transmutação Humana na cabeça dele, eu quase destruí permanentemente a vida de meu único irmão.
- Você não teve culpa, Ed. Não faziam ideia de que não ia dar certo e além do mais, o Al está bem agora não é?
- Sim, mas não é a mesma coisa. Ele perdeu tempo demais...
Ao falar isso, encolheu-se colocando a cabeça entre os braços e escondendo o rosto, como uma criança que chora após ter brigado com a mãe, só que sem as lágrimas. Ficou assim algum tempo, sentindo o vento frio vindo do Leste e a senhorita preocupação observando-o de longe, até que esta se aproximou recostando a cabeça sobre seu ombro esquerdo. Olhou vagamente para o lado e viu finas e leves mechas loiro-claras caindo entre seus braços. Havia tanto que não conseguira dizer todo aquele tempo que sua face queimava apenas em pensar, era a vergonha pelo tempo perdido, a tristeza pelo ressentimento. Ela murmurou algo.
-
Os homens demonstram o que sentem com atos em vez de palavras, se possível carregam sozinhos os seus sofrimentos, sem dividi-los com os outros. Só não querem que se preocupem com eles por isso não falam nada.
Uma curta pausa refletiu-se entre os dois. Levantou a cabeça. Só conhecia uma pessoa que falaria isso para ele, e não era a Winry.
- Ele me disse isso na última vez que o vi vivo, você lembra? Quando passei a noite lá no aniversário da Elisia.
- Ele foi mais um que não consegui proteger - disse demonstrando uma enorme angústia que o fez franzir o cenho de forma vigorosa - mas eu prometi que não desistiria. Mesmo que o Al tenha recuperado seu corpo e eu nunca mais tenha o meu de volta, eu prometi por todos os que eu deixei ir sem poder fazer nada.
Nesse momento a raiva foi substituída por uma interrogação em seu rosto. Viu que Winry estava sorrindo... e rindo?
- Mas o que foi agora, hein? Disse deixando-se corar levemente.
- É que eu adoro ver sua determinação. Eu nunca consegui me esforçar como vocês e nem fazer muito pra ajudar. Eu só esperava.
Uma fresta de algo claro e quente encobriu os rostos dos dois. O sol abria espaço entre as nuvens, perfurando sua escuridão com seus raios de luz. Isso fez Ed sorrir também, estreitando um pouco os olhos ao vê-lo. Winry olhava para a figura ao seu lado. Sentiu uma bela confusão de extremos vinda da mesma pessoa - ódio, determinação, felicidade?
Agarre o perfeito Momento de Ouro
Eu vou fazer um rosto inexpressivo com todas as minhas forças
Arraste-me para um mundo de ilusão
Sair desse interminável jogo do prazer
E pular para a linha da vitória
Quanto mais? Quanto mais eu vou ter que pagar?
De que mais eu terei que abrir mão?
- Na verdade eu esperava você chegar à parte em que me chama de "Louca Cabeça-de-Máquina"...
Não bastasse ter dito isso, Ed virou-se, empurrando-a sobre a grama, apoiando os braços no chão e encarando-a com um sorriso há tempos não visto por ela, como certa vez em que o viu partir em mais um trem ao meio-dia.
- Eu deveria te chamar é de Otaku de Engenharia, sua maníaca por automails.
O olhar assustado de Winry deu espaço a um sorriso brincalhão. Empurrou Edward fazendo-o cair de costas depois de rolar de onde estava abaixo uma ou duas vezes.
- Então vem e chama... "Mini-projeto de Ser Humano".
- AAAAHHHH!!! QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA ME CHAMAR DE PULGA NANICA MICROSCÓPICA, HEIN?
- Certeza de que quer ouvir isso de novo? {risos}
- Droga, Winry!! Para de rir da minha cara!!! {Levanta e sai correndo atrás dela, que por sinal, realmente estava se divertindo}.
Depois de um tempo, já cansados de tanto rir, correr, sentaram-se uns cem metros longe de onde estavam. Foi aí que Winry percebeu:
- Ed, onde estão seus sapatos?
- Ah, eu devo ter deixdo lá junto com...
Nesse momento percebeu o quão tamanha foi sua distração. Levantou-se e saiu correndo de volta (desengonçado como um patinho que acaba de aprender a andar... sim, ele também caiu algumas vezes).
- EU VOLTO LOGO!! - gritou ele.
- Ed! Aonde vai? - fala acompanhando seu primeiro ato e olhando-o de longe.
- É QUE EU ESQUECI UMA COISA IMPORTANTE LÁ!! - diz berrando inda mais distante e desaparecendo numa baixa da colina onde estavam.
- Hum! nem imagino o que seja...
Winry retirou os sapatos também brancos, sem salto, que lembravam mais uma sapatilha infantil e, linda e lentamente, com o par de sapatos em mãos deixando que a terra fofa se apossasse de seus pés caminhou, trilhando o mesmo trajeto feito pelo loiro que há pouco saíra de seu campo de vista. Não andou muito mas, ao voltar ao local onde estavam, não o encontrou. Conseguiu pensar no antigo rio onde brincavam quando eram crianças. Era possível que tivesse se distraído e ido parar lá, só por impulso. Já acontecera com ela uma vez. O local era visível de onde estava.
~x~
Lá estava ele, de pé sobre a grama e sob a fina chuva que insistia em voltar a cair mesmo com o sol, segurando em uma das mãos um pequeno objeto poligonal preto - que até então era desconhecido por ela - tendo largado os sapatos de lado novamente. Olhava para cima numa expressão pensativa. Algum tempo depois, ficou abruptamente sem jeito ao notar sua presença; seus lábios tremeram rapidamente como se fosse dizer algo, mas voltaram ao normal logo em seguida, na mesma expressão séria de quase sempre, enquanto, um pouco arrependido por ter olhado para trás, virava de volta para o sol a meio céu e ainda nitidamente brilhante sobre aquela paisagem bastante familiar para ambos.
Chegou a uma distância próxima do rapaz, e ao lado dele parou. Sua voz era audível para o que quisesse perguntar.
- Tem mais alguma coisa te incomodando, Ed? - disse com semblante já preocupado. Ninguém se sentiria bem vendo esse tipo de humor bipolar em ação. Ficou mais surpresa ainda com a resposta, dita sem desvios, em um tom áspero.
- Tem sim.
Um novo intervalo de silêncio nasceu. Morto pela mesma pessoa que o criou, ele não pretendia voltar mais.
- O céu que nós vimos aquele dia, aquele céu vermelho escuro, você se lembra? O dia em que abraçamos uma promessa e não pudemos cumprir?
O vento soprou mais forte, fazendo fluir junto de si mesmo, rigorosamente, os fios de cabelo que encobriam os contornos do rosto de cada um.
- Foi por esse motivo que eu esqueci... e escolhi renascer. Naquela noite vazia, naquela manhã que parecia nunca chegar, eu entendi tudo.
Edward virou-se finalmente. O mundo optou por tomar tons de azul e laranja, surgindo num uníssono da brisa suave e indo embora com as nuvens que se desfaziam para juntar com as novas num belo horizonte, claramente avermelhado. Aproximava-se dela e continuava a falar...
- Nós fizemos uma promessa, envolvidos pela brisa de um novo verão...
Estavam cara a cara. Fez uma pausa, não um exato silêncio. O pequeno objeto que segurava passou de sua mão para a dela, a qual segurou de forma firme, unindo-as. Ela lembrava perfeitamente. Olhou-o nos olhos e deu continuidade ao que estava dizendo.
- Nós estaremos juntos...
Ele deixou escapar um breve sorriso, deslizando a mão direita pelo seu ombro, permaneceu com a outra onde estava. Foram fechando os olhos, à medida que emanavam uma energia inabalável, sob um calor quente como ouro novo, indo de encontro um ao outro e intercalando mágoas, daquele momento em diante, dando início a um novo futuro. Futuro este, que estava muito longe de acabar. Um amor imortal.
Bata palmas de frente à face da adversidade, me anime
Ataque com seus dentes seguindo seu próprio estilo
Atenção, é perigoso ultrapassar os seus limites
Esculpir o maior "Conto de Fadas" da história
Uma grande reviravolta, resolva ela com esplendor
Você sabia? O destino está para ser roubado
Não se sabe bem o porquê, Edward atrasou sua ida por mais uma noite. Ele voltaria à Cidade Central, mas também à Resembool. Ela não esperaria mais; ao menos não como antes. Contudo, ainda, em meio àquela total fusão de sentimentos, de corações e das pessoas dentro deles, algo brilhava. Uma caixinha preta, aberta, na qual uma pequena chave inglesa ligada ponta a ponta formava uma delicada aliança prateada; indicação em seu interior dizendo: I'll Never Forget.
(BABERU no choujyou ni sasu hi no hikari o abiro)
Aproveite o sol brilhando no topo de Babel.
The End.
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Notas finais:
Bom pessoal, espero que tenham gostado. Suas considerações finais são bem-vindas. ^^
Mile-Chan.